quarta-feira, 23 de junho de 2010

NÃO ERAM SOMENTE UMA TURBA

O conceito fundamental para entender os assassinos de Hypatia era o conceito de Quaresma. Estudar e contextualizar a Quaresma, no tempo e espaço, explicaria o grau de misticismo, de sectarismo, de fanatismo, de alucinação, do grupo que assassinou Hypatia. O que moveu os assassinos foi a religião, isto é um fato. Mas qual religião? É fato que obedeciam a uma hierarquia, mas qual hierarquia de pessoas e de valores que permitiriam tal assombroso atentado a vida? Certamente que os valores que seguiam os assassinos não eram a verdadeira ordem e harmonia.

A Quaresma suscitou algum tipo de excitação nervosa, que deixou os assassinos impacientes em cometer desatinos? Esses loucos furiosos, acreditavam que Deus falava com eles ou com alguns deles? Até onde os “Parabolani” imaginavam, que seriam absolvidos de tal ato tenebroso? A citação das “bacantes”, como analogia aos assassinos, corresponderia a citação da mesma loucura, fanatizada, embriagada, desregrada, convulsa, imaginando tudo como inspiração divina? Já se afirmou que os “Parabolani” anteciparam os atos inquisitoriais da Idade Média. Na verdade, seria diferente: os assassinos preservaram e conservaram antigas práticas religiosas relacionadas as orgias. Mas porque tal anacronismo? Até que ponto as mentes assassinas praticavam atos convulsionários? Até onde a solidão do deserto, o confinamento,  a entrega, sem reservas, à prece, às práticas mais rigorosa da penitência, o asilo, foram motores de alucinações? Até onde o corpo foi castigado? Até onde falavam línguas ignoradas ou esquecidas? Até onde os discursos improvisados falavam de “graça”, “Igreja”, “Fim de mundo”? Até onde pensavam que liam pensamentos? Até onde prediziam? Quais os efeitos do êxtase? Até onde a “Paixão de Cristo” permitiria a tortura, a mortificação, talvez, a própria crucificação? Até onde se buscava a cura pessoal?

Nesse contexto de alucinação, até onde a filosofia de Hypatia era renegada, anteposta,  na medida em que propunha outra versão, outro ponto de vista, sobre as alucinações dos assassinos, fúria, ódio, fogueiras e assassinatos em nome de uma suposta fé? Até onde o sangue de Hypatia serviria como holocausto, sacrifício, para se chegar a um propósito supostamente milagroso? Até onde os assassinos perderam a noção de moral, de virtude, do belo e do bem, até mesmo do espaço e do tempo? Até onde tudo isso escondia a ambição, o orgulho, o desejo sexual, paixões subterrâneas, e a toda uma série de doenças mentais?

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