quinta-feira, 8 de abril de 2010

Hipátia

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Hipátia de Alexandria - Provável gravura deGasparo
Hipátia (ou Hipácia) de Alexandria (em grego: Υπατία), matemática e filósofa neoplatônica, nascida aproximadamente em 355 e assassinada em 415.

Índice


Biografia

Hipátia era filha de Theon, um renomado filósofo, astrônomo, matemático, autor de diversas obras e professor em Alexandria.
Criada em um ambiente de idéias e filosofia, tinha uma forte ligação com o pai, que lhe transmitiu, além de conhecimentos, a forte paixão pela busca de respostas para o desconhecido. Diz-se que ela, sob tutela e orientação paternas, submetia-se a uma rigorosa disciplina física, para atingir o ideal helênico de ter a mente sã em um corpo são.
Hipátia estudou na Academia de Alexandria, onde devorava conhecimento:
matemática, astronomia, filosofia, religião, poesia e artes. Aoratória e a retórica também não foram descuidadas.
Quando adolescente, viajou para Atenas, para completar a educação na Academia Neoplatônica, onde não demorou a se destacar pelos esforços para unificar a matemática de Diofanto com o neoplatonismo de Amónio e Plotino, isto é, aplicando o raciocínio matemático ao conceito neoplatônico do Uno (mônada das mônadas).[1]
Ao retornar, já havia um emprego esperando por ela em Alexandria: seria professora na Academia onde fizera a maior parte dos estudos, ocupando a cadeira que fora de Plotino.
Aos 30 anos já era diretora da Academia, sendo muitas as obras que escreveu nesse período.
Um dos seus alunos foi o notável filósofo Sinésio de Cirene (370 - 413), que lhe escrevia freqüentemente, pedindo-lhe conselhos.
Através destas cartas, sabemos que Hipátia desenvolveu alguns instrumentos usados na Física e na Astronomia, entre os quais o hidrômetro.[2]
Sabemos também que desenvolveu estudos sobre a Álgebra de Diofanto ("Sobre o Cânon Astronômico de Diofanto"), tendo escrito um tratado sobre o assunto, além de comentários sobre os matemáticos clássicos, incluindo Ptolomeu.
Em parceria com o pai, escreveu um tratado sobre Euclides.
Ficou famosa por ser uma grande solucionadora de problemas.
Matemáticos confusos, com algum problema em especial, escreviam-lhe pedindo uma solução.
E ela raramente os desapontava.
Obcecada pelo processo de demonstração lógica, quando lhe perguntavam porque jamais se casara, respondia que já era casada com a verdade.[3]
Hipátia por Rafael
O seu fim trágico se desenhou a partir de 412, quando Cirilo foi nomeado Patriarca [4] de Alexandria.
Ele era um cristão intransigente, que lutou toda a vida defendendo a ortodoxia da Igreja e combatendo asheresias, sobretudo o Nestorianismo.
Acredita-se que tenha sido o principal responsável pela morte de Hipátia, ainda que não haja nenhuma prova inequívoca disso.

Intolerância e fanatismo

O reinado de Teodósio (379-392) marca o auge de um processo de transformação do Cristianismo, da condição de religião intolerada para religião intolerante.
Em 391, atendendo pedido do então Patriarca de Alexandria, Teófilo, ele autorizou a destruição do Templo de Serápis, um vasto santuário pagão onde eram praticados sacrifícios de animais e humanos, segundo as crónicas dos historiadores contemporâneos Sozomeno e Tiranio Rufino.[5]
Embora a legislação de 393 procurasse coibir distúrbios, surtos de violência popular entre cristãos e judeus tornaram-se cada vez mais frequentes em Alexandria, principalmente após a ascensão de Cirilo ao Patriarcado.
Devido a esses distúrbios, entre os quais se contam diversos ataques a igrejas cristãs, os judeus acabaram por ser expulsos da cidade.

A morte trágica de Hipátia

De acordo com o relato de Sócrates, o Escolástico [6], numa tarde de março de 415, quando regressava do Museu, Hipátia foi atacada em plena rua por uma turba de cristãos enfurecidos.
Ela foi golpeada, desnudada e arrastada pelas ruas da cidade até uma igreja.
No interior do templo, foi cruelmente torturada até a morte, tendo o corpo dilacerado por conchas de ostras (ou cacos de cerâmica, segundo outra versão). Depois de morta, o corpo foi lançado a uma fogueira.
Segundo o mesmo historiador, tudo isto aconteceu pouco tempo depois de Orestes, prefeito da cidade, ter ordenado a execução de um monge cristão chamado Amónio, acto que enfureceu o bispo Cirilo e seus correlegionários.[7]
Devido à influência política que Hipátia exercia sobre o prefeito, é bastante provável que os fiéis de Cirilo a tivessem escolhido como uma espécie de alvo de retaliação para vingar a morte do monge.
De qualquer modo, é importante contextualizar o brutal homicídio da filósofa neoplatônica no conturbado ambiente social e político que se vivia nos sécs. IV e V d.C.
Neste período em que a população de Alexandria era conhecida pelo seu carácter extremamente violento, não espanta que Jorge de Capadócia (m.361) e Protério (m.457), dois bispos cristãos, tenham sofrido um destino muito similar ao de Hipátia:
o primeiro foi atado a um camelo, esquartejado e os seus restos queimados; o segundo arrastado pelas ruas e atirado ao fogo.[8]
No entanto, a eventual relação de Cirilo com o ocorrido continua a ser motivo de alguma controvérsia entre os historiadores.
Embora Sócrates e Edward Gibbon afirmem que o episódio trouxe opróbio para a Igreja de Alexandria, não mencionam qualquer envolvimento directo do patriarca.[9]
O filósofo pagão Damáscio, por sua vez, atribui explicitamente o assassinato ao patriarca, que invejaria Hipátia.[10]Contudo, a Enciclopédia Católica lembra que Damáscio escreveu cerca de um século depois dos factos e que os seus escritos manifestam um certo pendor anticristão.[11]
As últimas pesquisas crêem que o homicído de Hipátia resultou do conflito de duas facções cristãs: uma mais moderada, ao lado de Orestes, e outra mais rígida, seguidora de Cirilo.[12]

Citações sobre Hipátia

"Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Theon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos da época. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe receber os ensinamentos."

  • Descrição da morte de Hipátia, pelo historiador Edward Gibbon:
"Num dia fatal, na estação sagrada da Quaresma, Hipácia foi arrancada da carruagem, teve as roupas rasgadas e foi arrastada nua para a igreja. Lá foi desumanamente massacrada pelas mãos de Pedro, o Leitor, e a horda de fanáticos selvagens. A carne foi esfolada dos ossos com ostras afiadas, e os membros, ainda palpitantes, foram atirados às chamas".
"Hipátia distinguiu-se na matemática, na astronomia, na física e foi ainda responsável pela escola de filosofia neoplatônica - uma extraordinária diversificação de atividades para qualquer pessoa daquela época.
Nasceu em Alexandria em 370.
Numa época em que as mulheres tinham poucas oportunidades e eram tratadas como objetos, Hipátia moveu-se livremente e sem problemas nos domínios que pertenciam tradicionalmente aos homens.
Segundo todos os testemunhos, era de grande beleza.
Tinha muitos pretendentes mas rejeitou todas as propostas de casamento.
A Alexandria do tempo de Hipátia - então desde há muito sob o domínio romano - era uma cidade onde se vivia sob grande pressão.
A escravidão tinha retirado à civilização clássica a sua vitalidade, a Igreja Cristã consolidava-se e tentava dominar a influência e a cultura pagãs."

  • Hesíquio, o hebreu, aluno de Hipátia:
"Vestida com o manto dos filósofos, abrindo caminho no meio da cidade, explicava publicamente os escritos de Platão e deAristóteles, ou de qualquer filósofo a todos os que quisessem ouvi-la…
Os magistrados costumavam consultá-la em primeiro lugar para administração dos assuntos da cidade".
"Meu coração deseja a presença de vosso divino espírito que mais do que tudo poderia adoçar minha amarga sorte.
Oh minha mãe, minha irmã, mestre e benfeitora minha!
Minha alma está triste.
Mata-me a lembrança de meus filhos perdidos…
Quando receber notícias tuas e souber, como espero, que estás mais feliz do que eu, aliviar-se-ão pelo menos a metade de minhas dores".

Obras

Obras Recentes


  • Leia-se "Hipátia de Alexandria", Maria Dzielska.

Referências


  1. A teoria das mônadas sustenta que somos todos Um, porque todas as mônadas estão ligadas entre si, evoluindo e trabalhando constantemente para a expansão do Todo (Universo Infinito).

  2. Sinésio de Cirene, Carta 15

  3. Segundo a enciclopédia bizantina "Suda", ela foi esposa do filósofo Isidoro.

  4. Título de dignidade eclesiástica, somente usado em Constantinopla, Jerusalém e Alexandria.

  5. Sozomeno, Hist. Ecles. 7.15; Rufino, Hist. Ecles. 2.22

  6. Sócrates, o Escolástico, História Eclesiástica 7.15

  7. Sócrates, o Escolástico, Hist. Ecles. 7.14

  8. Evrágio, Hist. Ecles. 2.7

  9. Sócrates, Hist. Ecles. 7.15 / Edward Gibbon, A História do Declínio e Queda do Império Romano 47.2

  10. Damáscio. Live of Isidore (em inglês). Capítulo The Life of Hypatia, publicado no Suda.

  11. Catholic Encyclopedia: St. Cyril of Alexandria [1] (em inglês)

Ligações externas

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